Jaime Magalhães levava as fãs mais empedernidas ao delírio com este arrojado corte de cabelo. Quando Jaime passeava todo o seu esplendor pelas ruas apertadas da cidade, as mulheres tombavam aos seus pés nas geladas e escuras pedras da calçada, impotentes para controlar a súbita emoção provocada pela intensidade do charme que emanava das louras melenas soltas ao sabor da brisa marítima. Era autêntico ouro sobre azul, a trepidante cabeleira de Jaime. A luz do sol pedia licença antes de fazer reflexo nos seus filamentos dourados, a bola gozava por estar junto dele no desenfreado carrossel a meio-campo. Todo ele aprumo, todo ele elegância, Jaime desferia o golpe mortal nos frágeis corações femininos quando levantava o canto da boca e escondia um sorriso malicioso, sussurrando “c’mon, baby” como se estivesse num filme a preto-e-branco com um Martini na mão. Jaime sentia o mesmo à-vontade tanto a distribuir jogo atacante, com todos os holofotes apontados para si, como nos salões de beleza, por onde Jaime consumia a maior parte do seu tempo, aperaltando a sua figura e trocando impressões sobre a vida mundana.
Bandeirinha nunca mais foi o mesmo depois de ter visitado o Bronx numa visita de estudo do liceu, na última metade da década de setenta. Jovem ingénuo e facilmente impressionável, escancarou as portas da sua mente e assimilou a cultura local com total dedicação. Quando regressou à terra, Bandeirinha já não era o mesmo Bandeirinha que achava que Bud Spencer era o melhor actor do mundo. Começou a dar nas vistas por se fazer acompanhar de um largo rádio com leitor de cassettes da Crown para todo o lado que fosse. Depois ensaiou coreografias que quase estragaram o Ramadão de Madjer, de tão lascivas que eram. E quando ecoava Sly and The Family Stone nos corredores das Antas, sabia-se que Bandeirinha estava a chegar. Ao contagiar o balneário com ritmos funk, Bandeirinha espevitou aos ânimos e isso teve consequências. Algum tempo volvido, certos jogadores saturaram-se e houve uma clivagem ideológica no grupo, materializada pela formação de três facções: de um lado, o hedonismo de Bandeirinha; do outro, o niilismo de André. Pelo meio estava Kiki, completamente demarcado de tudo e todos, absorvido pelas complexidades do movimento reggae.
André era o cyberpunk das redondezas. Demasiado rebelde para o ambiente taciturno do seu tempo, André fazia mossa em tudo o que lhe rodeava, fosse ser vivo ou não. Parecia saído do grupo de motoqueiros do filme Mad Max e não havia Mad Max que parasse este espírito indomável na vida real. Ele era o Billy Idol da Avenida Fernão de Magalhães, o flagelo em pessoa. Partia cadeiras, amolgava portas, quebrava ossos, apertava tomates, mordia em cães, gritava em bibliotecas, ria-se a Bandeirinhas despregadas em funerais; enfim, era um genuíno enfant terrible que alagava de horror e estupefacção a bola lusa. Quem não estivesse com André, estava contra André. Quem só estivesse com André durante o fim-de-semana já estava um bocadinho contra o André. E quem só estivesse com o André nas sessões de alongamentos, de certeza que teria algo contra o André. Ninguém arriscava ter o André como inimigo. Por isso ninguém lhe dizia que o seu penteado, na melhor das hipóteses, não condizia com o seu tom de pele. O tempo e a calvície ajudaram a serenar as coisas.
Bem, e Demol? Demol nunca foi careca… o que está aqui a fazer? Quem era Demol? Demol era um central belga que marcava uns quantos penalties por ano, disparando balázios para o fundo das redes como quem folheava um jornal gratuito pela manhã. Os belgas não têm muito para dizer ao mundo, desde que monstros da táctica como Robert Waseige ou esse peixe fora de água que era Filip de Wilde nos concederam o privilégio da sua companhia. Por isso, aportuguesámos Demol segundo a cartilha vigente em 1989. Agora, Demol já tem uma recordação para mostrar aos netos, quer eles falem francês ou flamengo. Toma lá um bigode e não digas que vais daqui.
Bandeirinha nunca mais foi o mesmo depois de ter visitado o Bronx numa visita de estudo do liceu, na última metade da década de setenta. Jovem ingénuo e facilmente impressionável, escancarou as portas da sua mente e assimilou a cultura local com total dedicação. Quando regressou à terra, Bandeirinha já não era o mesmo Bandeirinha que achava que Bud Spencer era o melhor actor do mundo. Começou a dar nas vistas por se fazer acompanhar de um largo rádio com leitor de cassettes da Crown para todo o lado que fosse. Depois ensaiou coreografias que quase estragaram o Ramadão de Madjer, de tão lascivas que eram. E quando ecoava Sly and The Family Stone nos corredores das Antas, sabia-se que Bandeirinha estava a chegar. Ao contagiar o balneário com ritmos funk, Bandeirinha espevitou aos ânimos e isso teve consequências. Algum tempo volvido, certos jogadores saturaram-se e houve uma clivagem ideológica no grupo, materializada pela formação de três facções: de um lado, o hedonismo de Bandeirinha; do outro, o niilismo de André. Pelo meio estava Kiki, completamente demarcado de tudo e todos, absorvido pelas complexidades do movimento reggae.
André era o cyberpunk das redondezas. Demasiado rebelde para o ambiente taciturno do seu tempo, André fazia mossa em tudo o que lhe rodeava, fosse ser vivo ou não. Parecia saído do grupo de motoqueiros do filme Mad Max e não havia Mad Max que parasse este espírito indomável na vida real. Ele era o Billy Idol da Avenida Fernão de Magalhães, o flagelo em pessoa. Partia cadeiras, amolgava portas, quebrava ossos, apertava tomates, mordia em cães, gritava em bibliotecas, ria-se a Bandeirinhas despregadas em funerais; enfim, era um genuíno enfant terrible que alagava de horror e estupefacção a bola lusa. Quem não estivesse com André, estava contra André. Quem só estivesse com André durante o fim-de-semana já estava um bocadinho contra o André. E quem só estivesse com o André nas sessões de alongamentos, de certeza que teria algo contra o André. Ninguém arriscava ter o André como inimigo. Por isso ninguém lhe dizia que o seu penteado, na melhor das hipóteses, não condizia com o seu tom de pele. O tempo e a calvície ajudaram a serenar as coisas.
Bem, e Demol? Demol nunca foi careca… o que está aqui a fazer? Quem era Demol? Demol era um central belga que marcava uns quantos penalties por ano, disparando balázios para o fundo das redes como quem folheava um jornal gratuito pela manhã. Os belgas não têm muito para dizer ao mundo, desde que monstros da táctica como Robert Waseige ou esse peixe fora de água que era Filip de Wilde nos concederam o privilégio da sua companhia. Por isso, aportuguesámos Demol segundo a cartilha vigente em 1989. Agora, Demol já tem uma recordação para mostrar aos netos, quer eles falem francês ou flamengo. Toma lá um bigode e não digas que vais daqui.
14 comentários:
Eu sei que não tem muito a ver com este post, mas façam um post acerca dos melhores números 10 do futebol tuguês dos anos 90. Nº 10, essa posição nobre e de craque.
Não se esqueçam do meu preferido: Milinkovic, do Barça de Chaves!
pontapedecabessa.blogspot.com
Xau aí Paulos Alexandres!!
Oops, enganei-me... Queria dizer Barça de Trás-os-Montes!
Abraços saunders-minto-harkness-thomas-charles-deane-pembridgianos
pontapedecabessa.blogspot.com
rodriugues seu maroto,mostre-me seu bigode,nao faça como o fitxz
Amélia
Quem fez estas maravilhosas pinturas?
Ganda Porto este
Branco, Mlinarczyk, Geraldao, Futre, Madjer, Juari, Gomes, Jaime Pachecao.......Stefan Paille
Hehehe. Hilariante.
E ainda faltava aí a careca do imortal mago ovarense José Semedo, o mal-amado das Antas(que também beijou o doce relvado do Salgueiral do nosso amigo vidalpinheiro).
O André era um maluco. Aposto que ouvia Eiffel 65 no seu Fiat Uno com os stops fumados.
Semedo esse falso lento, lento.
Ja agora no tempo do Andre era mais Fiat127 e Comunards, quanto aos Eiffel 65 ainda pensei que fosse um ponta de lanca do tempo do Campomaiorense um colega do Laionel, mas nao Blu da ba dee daba da daba dee daba da daba dee Douala
Falar no Semedo faz-me lembrar o Best
APC
o Milinkovic era crack mas sem duvida o 10 que marcou o futebol tuga na decada de 90 foi o Caccioli.
Por falar em "10", alguém já viu um jogo do Cowboy Rainford Kalaba nesta pré-época?
Não... mas gostava de ter esse prazer antes de ele se escapulir para um colosso europeu...
Já se escapuliu:
foi emprestado ao Gil Vicente.
Falta só aki o "Rasta Man" Kiki ehehe.. Mas esse nem seria preciso efeitos especiais XD
O melhor n.º 10 da bola nacional foi o Kmet!!
Não era careca, mas era muito azelha...
Um Petrus Ferdinandus Johannes Van Hooijdonk para todos vós...
Ivo
Bud Spencer es el Mejor Actor del Mundo
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